O relógio despertou às 05:00, mas olhei para fora da barraca e a escuridão me desanimou. Enrolei um pouco e comecei a organizar as coisas às 06:00. Recolhi tudo, guardei a barraca e fui ao “banheiro”.
Tudo pronto. Agradeci muito meus anfitriões e, num gesto simbólico de gratidão, deixei de presente para eles um saquinho de suco em pó e um pacote de biscoito, para dar uma incrementada no lanche deles. Tiramos uma foto e segui meu caminho.
Se a estrada estivesse boa como esteve até ali chegaria rápido a São Félix. Afinal, estava apenas a 50 km. O problema é que do Rio Sono para frente, como Célio e Gilneto já haviam me alertado, a estrada era um pouco pior. De fato. Uma estrada mais arenosa que, mesmo pedalável, exigia um ritmo mais lento.
Além disso, o trecho também já se mostrava menos habitado. Começava a me sentir realmente no chamado deserto brasileiro!
O que era pra ser rápido foi, então, bem lento. Mesmo nas descidas não era possível acelerar. O terreno era imprevisível. O chão batido se transformava em areia sem mais nem menos. E numa velocidade mais alta isso poderia significar um belo tombo. Para não correr esse risco ia bem contido. Mal usei a coroa do meio, ia praticamente só na coroinha o tempo todo. Subida, descida, reta...
Por volta do quilômetro 20 passei aos pés do Morro da Catedral. Um morro com um formato bem singular que, de fato, lembra muito uma catedral.
Alguns quilômetros adiante encontrei um riacho que, na hora, me pareceu um verdadeiro oásis. O sol estava castigando e a água das garrafas estava fervendo. Pensei: “Não vi nenhum rio ou riacho hoje. Já tá passando da hora de aparecer algum.” Já estava sonhando com água fresca para beber e me molhar. Foi quando avistei uma vaca pastando na beira da estrada. Imaginei que se ela estava por ali é porque deveria haver água por perto. Liguei o GPS para tentar localizar algum curso d’água por perto, mas foi em vão. Me conformei e segui. Mas, minutos depois, para minha felicidade, surgiu um riacho cortando a estrada, correndo em direção a uma vereda. Mal pude acreditar! A água era cristalina e geladinha. Não pensei duas vezes. De roupa e tudo, só deixei o corpo cair. Enchi todas as garrafas, bebi bastante água e me molhei várias vezes antes de continuar. O ânimo estava renovado.
Depois disso foram surgindo outros cursos d’água. Sempre parava e molhava a cabeça. Cada vez que fazia isso ganhava novo ânimo.
A areia, que já se somava às costeletas, continuava impedindo uma progressão mais rápida. Mesmo assim logo avistei São Félix.
Uma cidade bem pequena, que parecia dividida em duas (ainda não descobri porque). Assim era São Félix do Tocantins.
Na Pousada da Irá, que haviam me indicado, já não havia vagas. Mas disseram para eu procurar o Paulinho, um pouco mais adiante. Lá consegui um quarto com ventilador. O Paulinho fez o jantar, enchi a pança e só queria saber de descansar. Decidi ficar mais um dia por lá. Lavar umas roupas, dar um trato na Poderosa... E, é claro, dar uma descansada também.
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