Logo na saída de Palmas peguei a estrada de asfalto para Aparecida do Rio Negro. Mas, em seguida, entrei à esquerda, num desvio que já tinha planejado, por uma estrada de terra. A estradinha começou boa. Passei ao lado de um campo de instrução do exército e até encontrei alguns militares dando uma corridinha por lá. Tratei de saudá-los como fazíamos nos tempos de caserna: “Montanha!” Logo, responderam: “Selva!”.
Pouco depois desse ponto as coisas começaram a se complicar. Sabia que tinha uma subidinha pela frente, mas não esperava que o terreno fosse tão difícil. Era pedra solta para tudo que é lado! Impraticável. Tive que empurrar morro acima. E foi uma luta! A bike estava pesada, e as pedras atrapalhavam até para empurrar. Parei várias vezes. Deitava um pouco, esperava a frequência cardíaca baixar, empurrava mais um pouco... Confesso que cheguei a pensar em desistir. Mas eu sou teimoso!
Depois de subir essa serra, a Serra do Lajeado, o resto da estrada estava muito bom. Mas a subida tinha me desgastado muito e me feito consumir muita água. E eu pagaria por isso mais tarde.
Mas enquanto isso, passei por um mirante de onde dava para ver a rodovia láaaaaa embaixo, e algumas fazendas. Uma vista incrível! Um lugar onde costumam praticar paraglider.
Daí para frente as coisas foram correndo bem. Mas minha água estava acabando, e nada de eu chegar de novo no asfalto. Comecei a racionar a água, mas me lembrei que trazia comigo 2 maçãs que tinha pegado no café da manhã em Palmas. Como a maçã tem muito líquido, comi uma e deixei uma para mais tarde. Mas esse mais tarde logo chegou. Avistei a entrada para uma fazenda. Havia gado perto da entrada. Logo, devia ter água por ali. Sentei na sombra de uma árvore, comi minha outra maçã e, com muita preocupação, tomei meu último gole d’água. Mas só tomei esse último gole porque sabia que nessa fazenda encontraria água.
Quando eu me preparava para retomar a pedalada rumo à tal fazenda, avistei uma caminhonete vindo pela estrada. Dei sinal e o motorista parou. Sabia que estava perto do asfalto, então perguntei para o motorista se na rodovia tinha algum posto de gasolina ou algum lugar onde poderia encontrar água. Ele me disse que havia uma bica de água mineral na beira da estrada da rodovia, e que não ficava muito longe. De fato, pelo que vi no GPS, o ponto que ele havia dito estava relativamente perto.
Além disso, já tinha ouvido falar dessa bica lendo relatos de outros cicloturistas na internet. Por isso decidi ir para a bica, e abandonei a ideia de tentar a sorte na fazenda, que eu não sabia exatamente a que distância ficava.
Nos despedimos e o motorista seguiu. Retomei a pedalada e, alguns minutos depois, vi a mesma caminhonete voltando. Pensei: “Será que esse cara foi lá na bica e trouxe água para mim?”. Ele piscou o farol e parou do meu lado. Desceu do carro já perguntando: “Você tem um facão aí?”. Disse que não, que só tinha canivete. Perguntei porque e ele disse: “Me lembrei que tenho uns cocos aqui na carroceria!”. Nem acreditei. Ele abriu a caçamba da caminhonete e tinha mais de uma dúzia de cocos lá dentro. Com muita paciência ele foi abrindo os cocos com o canivete. Abriu uns 4 e consegui encher minhas garrafas. Nunca tomei uma água de coco tão boa na minha vida! Gláucio era o nome dele. Agradeci muito e segui para a bica para beber mais um pouco d’água e tomar um banho para refrescar. Esse lugar é a filial do inferno! Muuuuuuuuuuuito calor!
Depois do banho, de beber bastante água, e de completar as garrafas, segui rumo aos quase 50 km que ainda me esperavam. A rodovia era pouco movimentada e toda ela com acostamento. Muito tranquilo.
Mas na medida em que os quilômetros se somavam a água ia embora. E logo percebi que precisaria encontrar mais água para conseguir chegar até Aparecida do Rio Negro. Foi aí que surgiu, do nada, um casebre à beira da estrada, onde um homem trabalhava fazendo móveis de madeira. Sem pensar duas vezes, me dirigi a essa casa e perguntei ao homem se ele tinha água para me dar. Foi a água mais gelada que eu beberia em toda a viagem! Congelada, literalmente! A casa não tinha nada dentro. Não era bem uma casa, parecia só um abrigo mesmo, para os dias em que ele ficava ali trabalhando. As únicas coisas lá dentro eram um colchonete, no chão de terra batida, e uma geladeira velha. Mas como gelava! De dentro dela ele tirou umas 2 garrafas pet de água já congelando. Perguntei se podia encher minhas garrafas, se não ia fazer falta. Ele disse que não ia fazer falta, que tinha muita na geladeira ainda. Não me fiz de rogado, enchi as garrafas e ainda dei uns bons goles. Agradeci ao Lúcio e continuei meu caminho.
Cheguei a Aparecida do Rio Negro pouco depois das 16:00, mas muito cansado. Por várias vezes, no caminho, senti um início de câimbra, mas consegui aliviar.
Arrumei uma pousada com ar condicionado e tomei um banho daqueles. Mas ainda me sentia muito cansado. Acho que a subida da serra, logo no início do dia, foi o que me desgastou mais. Mas valeu a pena.
Descolei um PF muito bom, perto da pousada. Mas também o que não é perto lá? A cidade é muito pequena. O PF estava muito bom, mas com certeza a fome ajudou a deixá-lo ainda melhor! Enquanto comia, comecei a pensar em tentar diminuir a minha bagagem. E era isso que iria fazer no dia seguinte.
Nenhum comentário:
Postar um comentário