terça-feira, 28 de maio de 2013

12/07/12 – Da Vila de São Jorge até Alto Paraíso (42 km)

Saí do hostel com a intenção de conhecer os Saltos do Rio Preto, os cânions e a Cachoeira das Cariocas. No caminho para lá me deparei com a trilha que leva à Cachoeira do Abismo e à Janela, lugares dos quais havia visto belas fotos no dia anterior. Decidi passar lá. Até certo ponto deu para ir de bike, depois a acorrentei e segui a pé. Metros à frente encontrei uma casinha. Era uma espécie de bilheteria. Mas o cara disse que nessa época do ano não havia água na Cachoeira do Abismo. Então desisti de ir até lá e pagar os R$ 10,00.

Retomei o caminho para os Saltos. Descobri que eles são dentro do Parque. Na entrada do Parque ninguém me atendeu. Havia vários turistas lá dentro, mas ninguém no balcão de recepção. Como já estava sem saco de ficar procurando alguém para me atender, peguei a bike e fui entrando. Aí sim! Logo apareceu uma dona para falar que, além de não poder entrar de bike, só podia entrar com guia. “É brincadeira!”. Só querem saber de grana. É uma exploração... Para te atender não aparece ninguém, mas para te cobrar... Ah! Isso não falta! E a diária do guia e “só” R$ 100,00.

Isso para mim foi a gota d’água. Dei meia volta, passei no hostel, fiz minhas trouxas e fui embora. Cansei de ser explorado e mal atendido. A Chapada dos Veadeiros foi uma grande decepção para mim. Aliás, os goianos que me desculpem, mas desde que entrei em Goiás só passei raiva. Os serviços são péssimos e caros, e o atendimento muito, mas muito, ruim. Fiquei com uma péssima impressão.

Chegando a Alto Paraíso fui logo para a rodoviária e comprei minha passagem para Brasília, para o dia seguinte às 13:30. Em Brasília tomaria meu voo de volta para BH.

E assim terminou mais uma viagem fantástica. Mesmo com a péssima impressão que tive da Chapada, a viagem foi inesquecível. Pedalar no Jalapão foi uma experiência única. E só de lembrar já dá vontade de fazer tudo de novo!

11/07/12 – De Colinas do Sul até a Vila de São Jorge (49 km)

Hoje o dia foi morro acima, pura subida. No caminho para São Jorge passei pelo Encontro das Águas, lugar onde os rios São Miguel e Tocantinzinho se unem. De lá continuei subindo até chegar a São Jorge.







As hospedagens por aqui são bem mais caras do que eu estava acostumado até agora. Qualquer espelunca cobra R$ 80,00. Decidi ficar num hostel, por R$ 50,00.

Preguiça de escrever.

10/07/12 – Colinas do Sul (33 km)

Fui ao Porto Comunitário, um lugar à beira do lago da Serra da Mesa. O lago é gigante, mas de lá só é possível ver uma parte dele. Um lugar alto com uma vista melhor para o lago ficava longe, meio fora de mão.



Saí de lá e fui até a Cachoeira da Pedra Bonita. Não achei tão bonita assim. Acho que é porque fiquei mal acostumado com tantas cachoeiras lindas que já tinha visitado.

Despachei a barraca, o isolante térmico e o colchonete pelo correio. Daqui para frente não vou mais acampar, então é bobagem ficar carregando esse peso morto.

Amanhã sigo para a Vila de São Jorge.

09/07/12 – De Cavalcante até Colinas do Sul (105 km)

No planejamento inicial a ideia era acampar no Povoado Capela. Mas como as estradas por aqui são muito boas, decidi ir direto para Colinas do Sul. E foi assim. Parei no Povoado do Rio Negro, fiz um lanche, comprei mais água e segui em frente. Pouco depois, um pneu furado, o da frente de novo. Aproveitei a parada para ir ao “banheiro”.

Pouco antes das 18:00 chegava a Colinas do Sul. Missão cumprida.

08/07/12 – Cavalcante

Para chegar à Cachoeira Santa Bárbara é preciso encarar uma Serra logo na saída de Cavalcante.

Cheguei à Comunidade Kalunga, onde está a Cachoeira Santa Bárbara. R$ 10,00 para ter acesso à cachoeira. E a mulher ainda queria que eu contratasse um guia. Depois de insistir muito ela liberou minha entrada sem o guia, cujo preço nem quis saber.



A cachoeira é linda! Depois de um mergulho, segui para outra cachoeira lá perto, a Cachoeira da Capivara. Sem mergulho dessa vez, porque já estava ficando tarde e a volta era longa.




Já voltando, ainda parei num mirante de onde se pode avistar a Cachoeira Ave Maria, uma queda muito alta que pode ser vista de longe.



A descida da Serra foi ótima. E ao entardecer estava de volta a Cavalcante, depois de ter pedalado 93 km.

07/07/12 – De Palmas até Cavalcante

Numa das paradas, já ciente de que Alto Paraíso estava próxima, liguei o GPS para ver onde eu estava. Eram 04:00 quando descobri que estava em Teresina de Goiás, no trevo para Cavalcante. Dali até Cavalcante seriam só 25 km. Mas se fosse para Alto Paraíso teria que voltar até ali, mais 50 e tantos quilômetros. Hesitei por um instante, mas decidi ficar por ali mesmo. Falei com o motorista e desci toda a tralha. Agora era esperar amanhecer para seguir viagem rumo a Cavalcante. Comi e comecei a ajeitar as coisas devagar, à espera do amanhecer.

Com o dia clareando, parti. Só asfalto. Algumas subidinhas consideráveis, um tucano cruzando meu caminho a poucos metros de distância, e Cavalcante. 

Descolei uma pousada mais em conta, consegui lavar as roupas e dormi das 11:00 às 16:00. A noite não tinha sido fácil!

Amanhã pretendo ir à Cachoeira Santa Bárbara, a uns 25 ou 30 km.

06/07/12 – De Taquaruçu até Palmas (35 km)

Saí 07:30 e a perspectiva era chegar em Palmas ainda cedo. Estrada de asfalto até lá.

Na saída da cidade, à beira da rodovia, está a Cachoeira Taquaruçu. Parei para dar uma olhadinha. Uma queda bonita e um bom lugar para dar um mergulho. Pena que ainda estava muito cedo para encarar. Cedo e frio! Mas o lugar parece ser bem “farofado”. Há muitas cadeiras e mesas por todo lado e, como todo lugar de fácil acesso, parece que fica lotado durante o dia.

Cheguei a Palmas antes das 10:00. Fui direto para a rodoviária. Consegui comprar passagem para Alto Paraíso, mais perto de Cavalcante que Campos Belos. O ônibus sairia às 19:30. Comi alguma coisa e fui para o centro da cidade. Fui atrás do Sedex com a bateria da câmera, mas descobri que tinha acontecido algum erro e o bendito Sedex tinha voltado para BH.

Agora sabia que ia ser quase impossível carregar a bateria. Confesso que isso me emputeceu bastante. Mas como ainda era cedo e eu sou bem teimoso não ia desistir assim tão fácil. Foi aí que começou a minha saga.

Primeiro liguei para uma loja de fotos que achei no catálogo. Sem sucesso. Fui, então, a uma lan house, entrei no site da Canon e liguei para uma loja indicada lá como revendedora. Nada. Mas era cedo para desanimar. No site telelistas procurei por estúdios fotográficos na cidade. Liguei para um deles e perguntei se trabalhavam com câmeras Canon. Expliquei a situação e pedi ajuda para carregar a bateria. Disseram para passar lá. Fui. Mas o carregador deles não era compatível com a minha bateria. O cara que me atendeu indicou uma loja onde vendiam suprimentos Canon. Corri para lá. Sem sucesso. Lá me indicaram outro lugar. Fui. Nada também. Loja ao lado. Nada. “Tem um lugar que tem assistência técnica Canon!”. Nada. Mas nesse último lugar me indicaram uma loja, numa galeriazinha, que poderia ser mais uma esperança. Já estava me cansado daquela caçada implacável. Na tal galeria, mais duas tentativas fracassadas. Quando já estava quase me conformando em ficar sem as fotos, descobri uma lojinha, num cantinho da galeria. Era um lugar onde faziam manutenção de câmeras. Um equatoriano, Edgar, dono do lugar (e único funcionário), decidiu me ajudar depois de eu insistir bastante. “Eu vou dar um jeito”. Não sei bem o que ele fez. Parece que uma gambiarra com um carregador que ele tinha lá. O certo é que a bateria estava carregando! Nem acreditei.

Enquanto a bateria carregava fui comer. De volta, a bateria estava carregada. Milagre!

Fui à Praça dos Girassóis conhecer o Monumento aos 18 do forte. Deitei um tempo na praça, para descansar. Fui ao parque Cesamar também. Têm uma pista de cooper muito legal por lá, em volta de um lago. Quase 3 km. De lá para a rodoviária, para ter uma experiência sui generis: tomar banho na rodoviária!



Sempre ficava pensando, quando ia a um banheiro de rodoviária ou de parada de ônibus e via chuveiros: “Que tipo de criatura toma banho nesses banheiros?!”. Agora eu era uma dessas criaturas.

Do jeito que estava não dava para viajar. Todo suado e fedido. Deixei a bike no guarda volumes, peguei umas roupas e encarei a aventura. De banho tomado, peguei a bike e fui para a plataforma de embarque preparar tudo.

Embarcado. Agora era encarar uma longa noite, rumo a Alto Paraíso.

O ar condicionado do ônibus estava na minha cabeça. Eu mereço! Parece que escolho a dedo. Mas... Como eu já previa um friozinho, tinha deixado separadas uma calça, uma blusa e uma meia. Ajudaram bem!

05/07/12 – Taquaruçu

Acordei às 07:00, tomei meu café e comecei a subir a serra. Subida difícil, 3 km. Tomei o rumo da Cachoeira do Evilson, de onde escrevo. A cachoeira é bonita e fica em meio a uma vegetação fechada, o que torna o lugar frio e a água bem gelada. Por isso não tive coragem de “banhar”, como dizem por aqui.


Fiz um lanche, tirei fotos e segui para a Cachoeira Roncadeira.

Muito bonita também. No mesmo estilo da Cachoeira do Evilson, mas bem maior, uns 70 metros de queda.

A bateria da câmera acabou de vez. Amanhã vou pegar o carregador em Palmas. Não deu para fazer nenhuma foto da Cachoeira Roncadeira, mas conheci um cara de SP que tirou uma foto minha e ficou de me mandar por e-mail.

Desci a serra e, entrando na cidade, fui procurar por um lugar onde há uma tirolesa. É uma tirolesa de 1.300 metros de comprimento. Mas o preço não me animou, R$ 55,00. A mulher que me atendeu disse que um grupo iria descer às 16:00. Ainda eram 14:30. Acabei desistindo.

Agora preciso arrumar um jeito de chegar a Cavalcante, na Chapada dos Veadeiros. Parece que não existe ônibus de Palmas direto pra lá. Pelo que andei estudando nos mapas, a melhor alternativa parece ser pegar um ônibus para Campos Belos e, lá, outro para Cavalcante. Ou pedalar até lá, uns 130 km. Vamos ver.

04/07/12 – De Ponte Alta do Tocantins até Taquaruçu (122 km)

A ideia era ir até Santa Tereza do Tocantins. Mas no asfalto a pedalada rendia bem, e decidi que iria dormir em Taquaruçu. Me disseram que há várias cachoeiras lá e que em Santa Tereza não tinha muita coisa para ver.

No caminho reencontrei um sujeito de moto que havia encontrado há muitos dias atrás, lá para os lados de Novo Acordo: “Rapaz, você já está aqui?!”.

Antes do meio dia já estava em Santa Tereza, a 74 km de Ponte Alta. Um pneu furado no caminho até lá.

Em Santa Tereza parei num supermercado, comprei 2 Gatorade e fiz um lanche. Deitei na grama, numa sombra, para fazer a sesta e descansar um pouco antes de encarar os quase 50 km até Taquaruçu.

De Santa Tereza até Taquaruçu, muitas subidas, ao contrário do que Dona Lázara havia dito: “De Santa Tereza até Taquaruçu é só descida!”. Não sei de onde ela tirou isso! Descida mesmo foi só na chegada à cidade, nos últimos 3 km. A descida da Serra de Taquaruçu. A essa altura já passava das 16:00. Avistei, à beira da estrada, a trilha para a Cachoeira Roncadeira, onde pretendia ir. Mas com o adiantado da hora e o cansaço, preferi acabar de chegar à cidade e, no dia seguinte, ir até a Roncadeira e a Cachoeira do Evilson. Essas duas pareciam ser as mais bonitas de Taquaruçu.

Nada de fotos. Estou economizando o restinho de bateria que ainda me resta.

Achei um hotel excelente! Hotel e Pousada Taquaruçu. Tudo novo. Quarto grande com TV e frigobar... E consegui a diária por R$ 50,00. Daí para frente foi lanche, banho, cochilo, lan house, “jantar” e ver a final da Libertadores.

Mas cansado que ayer, pero menos que mañana.

03/07/12 – Ponte Alta do Tocantins

Tomei café e lavei roupa. Saí para tentar achar uma solução para a bateria da câmera. Na lan house o dono me disse que uma tal Márcia poderia ter uma câmera como a minha e, consequentemente, um carregador. Fui atrás dela, em vão. Era outra câmera. Ela me disse que havia um cara que trabalhava com fotografia, e que poderia ajudar. Fui eu atrás dele. Nada. Ele, por sua vez, me sugeriu comprar um carregador universal (desses da China) em uma loja de bugigangas ali perto. Fui pra lá! Nada! O carregador não carregava a minha bateria. A única solução, então, era pedir ao pessoal lá em casa para enviar meu carregador por Sedex. Ficaram de mandar para Palmas, para onde estou voltando. Lá vou tomar um ônibus para Cavalcante, na Chapada dos Veadeiros.

02/07/12 – Ponte Alta do Tocantins

Acordei às 7 e pouco, tomei café e saímos para o passeio. Adil foi nosso guia.

Depois de alguns poucos quilômetros de asfalto tomamos uma estrada de terra, muito boa, por sinal. Rodamos por um bom tempo antes de fazermos nossa primeira parada, na Cachoeira do Rio Soninho. De lá fomos para a Cachoeira da Fumaça, uma queda linda, mais ainda pelo arco-íris formado pelo vapor d’água.




Para finalizar o passeio fomos até a Pedra Furada, uma formação rochosa peculiar, toda esculpida, acredito, pelo vento. Mas chegamos por lá ainda muito cedo e tivemos que esperar um bom tempo pelo pôr do sol. Mas valeu a pena! Um espetáculo que rendeu boas fotos.








De volta à cidade, comprei biscoitos, torrone e pasta de dente. Mas decidi que ficaria mais um dia por aqui. A bateria da câmera está acabando e eu estou sem o carregador. Quero tentar encontrar um jeito de carregá-la. Além disso, tá na hora de lavar mais roupa. E quero postar umas fotos.

01/07/12 – Da Fazenda Triago até Ponte Alta do Tocantins (92 km)

Me despedi de Guilherme e Valdilene, agradeci muito por toda a hospitalidade deles e segui meu caminho. Eram 06:30. Com a estrada boa, logo cheguei ao trevo. Parei para comer uns biscoitos com castanha do Pará e rumei para Ponte Alta. Na verdade, como não sabia direito sobre as condições da estrada, minha intenção nesse dia era acampar na Fazenda Santim, mais ou menos no meio do caminho até Ponte Alta (indicação do Wagner, que dormiu por lá). Mas logo percebi que seria possível chegar a Ponte Alta. A estrada estava boa, um dos melhores trechos até agora, salvo algumas partes ruins, de muita areia, pouco depois do trevo. Mas coisa pouca. Tudo, então, ia depender das paradas que eu pretendia fazer, na Cachoeira do Lajeado e no Cânion da Sussuapara.

Ao longo do caminho pude ver placas indicando algumas cachoeiras, mas todas consideravelmente distantes da estrada principal. E pior, caminhos de pura areia. Decidi não me arriscar. Sabia que o Cânion da Sussuapara tinha uma placa de sinalização, mas não sabia se a Cachoeira do Lajeado também tinha.

Não sei se me disseram errado ou fiz confusão, mas na minha cabeça a entrada para a cachoeira era depois do cânion. Por isso não me preocupei. Iria ficar mais atento e ligar o GPS (tinha a cachoeira marcada nele) assim que passasse pelo cânion. Mas em uma parada para pegar água num riozinho, sentei para conversar com o pessoal que morava numa casinha na beira da estrada. Para minha surpresa, me disseram que já havia passado pelo acesso à Cachoeira do Lajeado. Na verdade, ela ficava antes do cânion. Me disseram que já tinha ficado pra trás a uns 3 ou 4 km, e que era um pouco fora da estrada, talvez mais uns 3 km. Achei melhor seguir para o cânion. Voltar iria significar um aumento considerável de distância. E, com certeza, não me permitiria chegar a Ponte Alta antes de anoitecer.

Uns 13 km depois avistei a tal placa para o cânion. Deixei a bike debaixo de uma árvore e segui uma trilhazinha de poucos metros até o cânion. Um lugar muito interessante, com uma pequena queda d’água. Lugar frio e sombrio, com pouca luminosidade. Difícil fotografar. Dei uma boa olhada por lá e logo retomei meu curso.



Assim que deixei o cânion encontrei o Guilherme. Ele estava indo de moto para Ponte Alta. Eu estava esperando encontrá-lo já havia algum tempo. Era minha vez de retribuir um pouco da sua hospitalidade, ainda que apenas com um pouco de água gelada. Uma garrafinha, que ele bebeu quase que num gole só. Essa eu tinha recarregado a alguns quilômetros, quando parei num venda para beber 2 Pepsi geladas.

Combinamos de nos encontrar em Ponte Alta à noite. Ainda faltavam uns 14 km para chegar a Ponte Alta.

Com a estrada boa, segui em bom ritmo. Logo avistei a cidade. Mas antes de adentrá-la ainda tive que vencer duas subidas monstruosas.

Procurei pela Pousada da Dona Lázara. Logo encontrei e pude tomar meu banho. Tentei ligar para o Guilherme, mas não consegui. Fui procurar um lugar para comer. Era domingo e não havia muitas opções abertas, mas achei uma pizza.

Meu plano era, no dia seguinte, ir à Pedra Furada e voltar para Ponte Alta. Seriam uns 60 km ida e volta. Dona Lázara disse que haveria um passeio dela por lá, com uma senhora de Goiânia. Perguntou se eu não queria ir, mas o preço me desanimou, R$ 200,00. Agradeci e disse que iria de bike mesmo. Ficamos conversando na varanda antes de dormir. Eu, Dona Lázara e Carmem, a senhora de Goiânia. Carmem acabou me convidando para ir com ela. Ela iria de todo jeito, já tinha pago. E insistiu para que eu fosse, de carona. Fiquei sem jeito, mas aceitei. Sairíamos às 08:00 do dia seguinte.

30/06/12 – Fazenda Triago

Acordei por volta das 08:00, tomei meu café (suco com biscoito) e me arrumei para ir de novo até a cachoeira e a prainha.

Em 45 minutos estava lá. Inventei de ir para a prainha pela trilha que sai da cachoeira. Roubada! Definitivamente não é uma trilha para bike. Mas com jeitinho e paciência deu pra chegar.

Mais um mergulho na prainha, um lanche, e por o diário em dia, de frente para o rio, numa sombra na areia. Agora está na hora de outro mergulho!




29/06/12 – Da Pousada Rio Novo até a Fazenda Triago (52 km)

No fim das contas essa parada na Pousada Rio Novo foi muito boa. Consegui descansar e repor as energias. Combinei com Seu Antônio um carreto até a estrada principal. Percorrer aqueles 9 km de areia não estava nos meus planos. Marcamos a saída às 06:00.

Acordei às 05:00 e comecei a por tudo em ordem. Às 06:20, mais ou menos, saímos de lá. Ele me deixou no trevo, na estrada principal. Fui na caçamba da caminhonete com a bike e a bagagem. Pensei que ele nem fosse me cobrar o carreto, mas, de todo jeito, perguntei: “Quanto lhe devo Seu Antônio (tinha bebido 2 refrigerantes, alugado uma boia e um colete e passado a noite acampado)?”. Ele respondeu: “R$ 65,00 tá bom?”. Confesso que no primeiro momento achei que ele estivesse brincando. Achei caro, mas é uma situação em que não dá pra fazer outra coisa senão concordar. Disse: “Tudo bem”. É bom pra eu aprender a combinar os preços antes. Mas, afinal, o cara madrugou pra me levar lá. Tudo bem.

Como a noite tinha sido boa, bem dormida, estava bem disposto. E a estrada até que resolveu colaborar também, melhorou sensivelmente. Houve momentos em que eu até pude usar a coroa grande, que já nem lembrava que tinha. Rs.


Num determinado momento apareceram muitas pedras pelo caminho. Mas nem achei muito ruim. Qualquer coisa era melhor que aquela areia!

Alguns carros passaram por mim, até que resolvi dar sinal para um deles parar. Perguntei se iam dormir em alguma cidade. Disseram que sim, em Mateiros. Pedi, então, um favor. Que ligassem a cobrar para minha casa e avisassem que estava tudo bem comigo. Já fazia 2 dias que eu não conseguia ligar.

Pouco depois disso meu pneu traseiro furou. Nem sombra havia para ajudar. Troquei ali mesmo, sob a pouca sombra que a própria bike projetava.

Mais à frente avistei uma torre que imaginei pudesse ser de celular, mas nada de sinal.

O sol já estava forte quando alcancei o trevo que dá acesso à Fazenda Triago. A expectativa era que a estrada estivesse ruim, mas, muito pelo contrário, estava muito boa. 20 km depois cheguei à fazenda. Muito interessante! Uma grande estrutura no meio do nada, praticamente abandonada.

Fui muito bem recebido pelo Guilherme e pela Valdilene, que moram por lá e tomam conta do lugar. Me deixaram acampar lá, numa estrutura com luz, água, banheiro...

A história é a seguinte. A fazenda pertencia ao traficante colombiano Pablo Escobar. Com a morte do traficante o lugar foi parar nas mãos do governo, que, durante um período, transformou a antiga fazenda em uma pousada. Mas com a mudança de governo a pousada foi desativada e a estrutura ficou lá às moscas. Dá dó de ver. Alas inteiras com suítes, restaurante... Um lugar curioso e agradável. De acordo com o Guilherme, o governo atual vem fazendo um levantamento de tudo por lá para tentar reativar a pousada.

Quando cheguei por lá já passava das 14:00. Com a permissão do Guilherme, comecei a descarregar a bagagem, com a intenção de deixar as coisas por ali e ir com a bike descarregada até a cachoeira e a prainha, a 9 km dali. Mas o Guilherme disse que estava indo para lá de moto e me ofereceu uma carona. Não pude recusar. No caminho, uma parada num alto de morro para pegar sinal da VIVO e dar notícias em casa.

A cachoeira é linda! Tirei algumas fotos e descemos até a prainha. Mais linda ainda! Quando bati os olhos nela não tive dúvida, teria que ficar mais um dia por ali para aproveitar.





Encontramos um grupo de turistas por lá. Conversamos um pouco, dei um mergulho e voltamos.

Na volta encontramos uma caminhonete indo para a cachoeira. O Guilherme deu sinal e eles pararam. Ele sempre dá recomendações aos turistas e avisa sobre a proibição de se acampar na prainha. Mas quando a caminhonete passou, logo coloquei meu Ecohead (uma espécie de lenço que serve de bandana) na cara, por causa da poeira. Já era um hábito, quase um reflexo, fazer isso. Quando desci da moto com o Ecohead na cara e me virei em direção à caminhonete o motorista se assustou e arrancou com pressa. Sem me dar conta do motivo daquela reação, perguntei ao Guilherme: “Uai, o que aconteceu?”. Quando ele olhou pra mim começou a rir. Entendi tudo. Ficaram achando que éramos assaltantes, coitados. Rimos durante o resto do caminho de volta para a fazenda.

Na fazenda, Guilherme e Valdilene me ofereceram banho e jantar. Aliás, acho que foi a melhor comida até agora. Muito boa mesmo. Arroz, feijão, carne com molho, e farinha de mandioca.

Depois do jantar bateu aquele sono! Hora de desmaiar.

28/06/12 – Do Rio Novo até a Pousada Rio Novo (26 km)

O relógio despertou às 05:00, mas estava muito cansado e só criei coragem para começar a desfazer acampamento às 6 e pouco.

Um dos fiscais, muito atencioso, fez uma tapioca pra mim de café da manhã. Mesmo eu tendo dito que já havia comido alguma coisa. Não pude fazer desfeita, mas custei a dar conta.

Despedida, agradecimento e estrada.


Comecei devagar, estava ainda muito cansado do dia anterior. A estrada não estava muito boa e os primeiros 10 km eram só subida. Percebi que seria muito difícil chegar até a Fazenda Triago (meu destino do dia) ainda com dia claro. No caminho vi um veado atravessando a estrada, sem a menor pressa.

No quilômetro 17, mais ou menos, avistei uma placa indicando a Pousada Rio Novo, onde foi gravada uma temporada do programa Survivor. Seriam 9 km até lá. Pensei bem e decidi que o melhor seria ficar por lá. Estava muito cansado e, nessas condições, o dia seria muito penoso. Rumei para lá decidido a passar a noite. A estrada estava péssima, muita areia. Foi muito difícil chegar.

Lá, fui atendido pela simpática Dona Milma que, preocupada com minha cara de cansado, me sugeriu um descanso no redário. Deitei por lá enquanto esperava Seu Antônio, marido dela, com quem trataria da hospedagem. Minha intenção era ficar numa das cabaninhas que eles têm por lá. Mas como eram bem caras pra mim (R$ 120,00) decidi acampar.

Armei meu acampamento e aluguei uma boia e um colete com Seu Antônio para descer o rio. Foi ótimo! O rio passa nos fundos da pousada e a água estava ótima.

Amanhã vou tentar uma carona com Seu Antônio para a estrada principal. Voltar os 9 km na areia vai ser f&%$#@!

27/06/12 – De Mateiros até o Rio Novo (46 km)

Perdi a hora! Queria acordar às 05:00, mas cometi o clássico erro do despertador. Ao invés de colocá-lo para despertar às 05:00 a.m., coloquei para as 05:00 p.m.! Mas o atraso não foi tão grande, acordei às 06:00. Arrumei tudo o mais rápido possível, tomei café e consegui sair às 06:50.

Na estrada, um tucano passou voando baixo. Era pequeno, mas foi uma imagem muito bonita.



A pedalada ia rendendo bem e por volta de 09:30 cheguei à entrada para a trilha da Serra do Espírito Santo. Como ainda era cedo resolvi subir. Acorrentei a bike à placa no pé da serra e comecei a subida. Uma subida íngreme, um pouco cansativa. Mas mesmo antes de alcançar o topo tive a certeza de que valeria a pena. A vista era linda e o vento refrescava, amenizando o calor, que é uma constante por aqui. Além disso, é relaxante ouvir o som do vento balançando as copas das árvores que se espalham pelo topo da serra.

Lá em cima, tudo plano. Uma placa indica a trilha para o mirante (3 km), de onde se pode ver, ao longe, as dunas.

Antes do mirante há um ponto de onde se tem uma bela vista do resto da serra e da estrada, lá embaixo.



O mirante fica numa parte da serra onde a erosão já está em estágio avançado. A visão é de um imenso barranco e, ao fundo, as dunas. Venta muito!





Apesar de ter encontrado um casal na trilha, em geral não vejo muitos turistas por aqui. Os pontos turísticos têm sido como locais particulares para mim. Eu e a natureza. Uma sensação incrivelmente boa.

A estrada que dá acesso à trilha para a serra é de pura areia, assim como toda estrada que sai da estrada principal. E isso geralmente é sinônimo de empurrar a bike. Algumas vezes até é possível pedalar, mas não por muito tempo. Logo surge uma parte mais crítica, impedalável. Mesmo na estrada principal há partes muito ruins, alguns atoleiros de areia. Muitas vezes é preciso dar uma empurradinha, de uns 5, 10 metros, até que surja outro atoleiro... E assim vai.

De volta à estrada, segui mais uns 8 km e cheguei ao acesso às dunas. Ali existe um posto do Naturantins, que é um órgão ambiental do estado (pelo que me disseram), e um bar, onde pude tomar um refrigerante gelado e deixar a bike, já que o caminho às dunas era de muita areia.

O caminho era longo, 5 km de estrada de areia que eu tive que percorrer a pé. Eram 14:30 quando comecei minha caminhada. Depois de quase uma hora e meia consegui chegar. Percebi que seria difícil chegar até o Rio Novo (onde pretendia dormir) ainda com sol. Mas decidi não me preocupar. O caminho até as dunas havia sido penoso e eu tinha que aproveitar o lugar. Bem no alto das dunas encontrei uma sombra onde pude sentar para descansar e comer alguma coisa.





Depois de apreciar o lugar e tirar muitas fotos, tomei o caminho de volta. Apertei o passo o máximo que pude. No bar, tomei mais um refrigerante gelado e comprei uma garrafa d’água de 2 litros. A minha havia rachado quando ainda estava na serra.

Saí do bar com o sol já se pondo. Precisava percorrer os 13 km até o Rio Novo o mais rápido possível. Mas a estrada não estava disposta a colaborar. Muitos atoleiros de areia. Não dava para acelerar. Logo a noite veio. Liguei a lanterna e segui.

Por volta de 19:30 avistei uma placa indicando a presença de um posto da ADAPEC. Imediatamente me lembrei de Célio e Gilneto, e da hospitalidade com que me receberam no Rio Sono. Decidi pedir guarida por lá. Os fiscais de lá me receberam e foram tão hospitaleiros quanto meus amigos do Rio Sono. Mas eles estavam muito mais bem instalados que Célio e Gilneto. Tinham energia elétrica, banheiro, geladeira, TV com antena parabólica...

Montei a barraca, tomei banho e fiz um macarrão no fogão deles. Fiz um suco também, e jantei assistindo o Jornal Nacional com eles. Depois de lavar a panela, escovei os dentes e pedi licença. Estava morto, precisava descansar.