terça-feira, 28 de maio de 2013

20/06/12 – De Novo Acordo até o Rio Sono / Posto ADAPEC (99 km)

Consegui sair de Novo Acordo às 06:00, com o sol nascendo. Logo no início pude perceber que a estrada estava muito boa (e para minha sorte, iria continuar assim por um bom tempo).

Sair cedinho foi um grande negócio. Com a estrada boa e sem o calor deu para imprimir um bom ritmo e a pedalada ia rendendo. Logo já tinha rodado 20 km. A meta era fazer 49 km até o Rio Vermelho. Mas pelas circunstâncias, essa meta já parecia bem modesta. Comecei a calcular e a planejar uma esticada maior, até o Rio Sono. Seria muito bom conseguir chegar até lá, porque lá existe um posto de fiscalização ambiental que poderia servir de apoio para o acampamento, e no Rio Vermelho não havia nada. Mas o caminho até o Rio Vermelho tem até “muitas” casas e fazendas, não é tão deserto.

No km 30, mais ou menos, parei numa sombra para tomar água e, para minha surpresa, passaram 3 araras azuis voando, cruzando a estrada. Estavam voando baixo, a uns 2 metros de mim apenas. Foi uma imagem linda, pena que não deu para registrar em foto.


Na medida em que ia avançando vi que aquela imagem seria um tanto quanto corriqueira. Vez ou outra avistava mais araras, papagaios, siriemas...

Por volta das 11:00 já estava no Rio Vermelho. Atravessei a ponte, desci até o rio, tomei um banho revigorante e almocei. O bom e velho salaminho com biscoito! Refiz os cálculos e pus na cabeça que iria dormir no Rio Sono.


A pedalada continuava rendendo bem. O tempo ajudava. O céu tinha muitas nuvens, que produziam sombras providenciais. Sem falar no vento, que ajudava a diminuir a sensação de calor.

Subi o Morro Vermelho e, no meio do nada, apareceu o bar do Seu Camilo, sobre o qual o Wagner já havia me falado. O bar fica a uns 70 km de Novo Acordo.

Seu Camilo me atendeu muito bem. Tomei 2 Coca-Cola bem geladas, comi uma batata, joguei água na cabeça, liguei para casa, bati um papo com Seu Camilo, e até cogitei ficar por lá. Mas como ainda estava cedo (era 1 e pouco da tarde) resolvi continuar. Se ficasse por lá teria muito chão até São Félix, no dia seguinte. Seriam uns 80 km. Dormindo no Rio Sono seriam só 50 km.

A estrada continuava muito boa e vi que daria para chegar ao Rio Sono antes das 17:00. E assim foi.


No Rio Sono conheci o Célio e o Gilneto, 2 fiscais da ADAPEC que me receberam muito bem e me deixaram pernoitar por lá, ao lado do posto. Tratei de começar a armar meu acampamento. Montei a barraca rapidinho e fui tomar um banho. Era um chuveiro improvisado, fiquei impressionado com o descaso com o qual eles são tratados pela tal ADAPEC. Mas depois falo mais sobre isso. O fato é que o chuveiro era um cano com um bojo na ponta, e a água vinha direto de um riacho. Essa água ia para a casa e para uma caixa d’água ao lado do chuveiro. Para “ligar” o chuveiro era necessário desconectar o cano que levava água para a casa e conectá-lo no cano do chuveiro. Voilà! Foi o melhor banho que eu já tomei! Tanto é que tomei 2! Um antes de montar a barraca e outro depois.


Perguntei se eles tinham geladeira, para eu colocar a água. Nada. “Mas luz tem, né? E telefone?” Para todas essas perguntas a resposta era sempre a mesma: “Rapaz... Tinha, mas eles tiraram”. “E aquela antena ali? É de rádio, né? Pelo menos o rádio vocês têm aí então, né? No caso de uma emergência...” E a resposta: “Rapaz... Tinha...”.

Sério. É impressionante. Os caras são fiscais ambientais e ficam ali em um turno de 7 dias sem luz, sem telefone, sem rádio, sem banheiro! É! Não tinha banheiro também! Descobri isso na manhã seguinte, quando pedi para usar. Bom... O jeito era ir para trás da moita mesmo.

Mas o melhor de tudo é que mesmo com todos esses perrengues os caras estavam sempre rindo e de bem com a vida.

Armei meu fogareiro, fiz meu jantar, um suquinho em pó... Ficamos ali no escuro batendo papo e admirando um céu como há muito não via. Mas logo o sono bateu forte. Afinal, foram 100 km!

Fui para minha barraca, estiquei meu isolante térmico, improvisei um travesseiro com uma blusa e deixei um pedaço de lona do lado. Se o frio apertasse seria meu cobertor, já que meu saco de dormir, àquela altura do campeonato, já estava a caminho de BH.

Mas apesar do sono, custei a dormir. Não estava fácil achar uma posição. De madrugada o tempo esfriou um pouco, mas a lona serviu direitinho.

Nenhum comentário: