terça-feira, 15 de junho de 2010

Dia 01: 15/06/10. Saint Jean Pied de Port - Zubiri. 46,7 kms.

06:30 da manhã. Meu relógio desperta. Hora do desayuno. Um café da manhã simples mas muito gostoso. Pão com manteiga, café com leite, polenguinho, suco de laranja... Tomei meu café, escovei os dentes, arrumei a bagagem nos alfoges e pus tudo na bike. Agora não tem escapatória, chegou a hora! Agora é pra valer mesmo. E o frio na barriga continuava. Graças a Deus a chuva pareceu dar uma trégua e o dia amanheceu com céu claro.

Me despedi dos hospitaleiros, dos outros peregrinos - Inclusive do casal de franceses muito boa praça que estavam comigo no mesmo quarto. Eles só falavam francês, eu só falava: "Je ne parle pas français" mas a gente se entendia bem. Pelo menos ríamos bastante. Talvez da própria situação. Um outro casal, de Alemães, se não me engano, também estavam de bike. E na saída fui na cola deles pra descobrir onde começava o Caminho. Mas logo na saída de Saint Jean a gente se separou. Isso porque eles iriam por "la carretera" e eu, seguindo a risca meu lema: "O que é um peido pra quem tá cagado?" fui pela rota mais difícil, a Rota de Napoleão. Dizem que essa rota foi usada por Napoleão em seus áureos tempos. Sabia que era uma rota mais difícil, com muitas subidas, mas sabia também que era a rota com as paisagens mais bonitas. Não pensei 2 vezes. Me despedi dos alemães e segui morro acima.

Logo nos primeiros quilômetros topei com um espanhol muito gente boa, Jauma. Pelo menos foi assim que entendi o nome dele. Fomos subindo aos pucos. Ele também estava de bike. A gente ia subindo, conversando, parando pra descansar... E assim foi. Jauma me contou que era auxiliar de enfermagem em Barcelona e que era torcedor do Barça. Ela estava com uma bike de 21 marchas como eu, mas estava com bastante dificuldade para subir. Isso porque estava com uns 20 kg de carga. Pelo menos 7 a mais que eu. Eu queria chegar até Zubiri (a 50 km de Sain Jean) e por isso não queria perder muito tempo. Porque pelo pouco que já tinha percebido esse trecho não ia ser nada fácil. E por isso acabamos nos desencontrando. A cada parada que fazíamos eu saia na frente e depois de algum tempo, quando parava pra fazer fotos, lá vinha o Jauma. Mas numa dessas a gente acabou se separando. Parei, ele não apareceu e assim nos separamos. Mas dizem que no Caminho é assim mesmo, as pessoas vêm e vão a cada curva, a cada reta. E o que fica são as boas lembranças de curtas amizades. Buen Camiño, Jauma!

E pelo caminho fui conhecendo, assim desse jeito, várias pessoas. Todo mundo sempre com um grande sorriso no rosto e, mesmo sem conseguirmos nos comunicar bem, passando uma mensagem positiva. Ainda subindo os Pirineus conheci um casal Suíço e, conversa vai conversa vem, descobri que eles tinham recebido na casa deles um brasileiro. De Belo Horizonte! Hahahahaha. Belo Horizonte conhecida mundialmente!

Depois, mais à frente, e perto de um atoleiro de dar medo, conheci um casal da África do Sul! Quase não enxerguei os 2 de tanta neblina! Quanto mais a gente ia subindo mais difícil ficava. Era muita neblina mesmo! E o frio? Nem se fala!

A subida dos Pirineus foi mesmo osso. E acabou demorando bastante. Porque era realmente puxado, mas também porque toda hora acabava parando pra fazer foto. Quando percebi já era meio-dia e mal tinha chegado aos 20 km. Comecei a duvidar de que iria conseguir chegar a Zubiri. Mas depois da subida dos Pirineus as coisas melhoraram um pouco e percebi que dava pra chegar. E lá fui eu!

O tempo estava muito doido. A neblina começou a virar chuva, que depois parava... E no final da tarde... O sol veio dar o ar da graça, como que me dando as boas-vindas a Zubiri. Mas antes de chegar ainda passei por poucas e boas na descida do Bosque de Roncesvalles. Muita lama! E numa dessas arrisquei e me dei mal. Uma atolada das boas. Tentei passar por uma poça que parecia menor do que realmente era e... Aquela atolada! Meu tênis que um dia foi branco, agora é marrom!

E já quase chegando em Zubiri, uma descidinha danada também. Muita pedra! E haja freio!

Enfim, Zubiri. Cheguei e fui direto para o albergue. Afinal já eram quase 18:00 e eu ainda pretendia descobrir um lugar para ver o jogo do Brasil. Aliás foi uma das primeiras coisas que eu perguntei para o hospitaleiro. E ele me disse que havia um bar bem perto do albergue onde eu poderia conseguir. Isso me animou. Estava com medo de não conseguir ver o Brasil (E antes não tivesse visto, né? Que papelão! 2 x 1 só? Fala sério!). Os espanhóis, pelo menos os que vi por aqui, estão defecando e locomovendo para a copa. É muito diferente do Brasil. Se Zubiri fosse uma cidadezinha do interior do Brasil, ao invés de uma cidadezinha do interior da Espanha, estaria todo mundo doido, bandeira pra lá e pra cá... Mas aqui não. A gente quase se esquece que a Copa tá rolando (e olha que a Espanha tá com um timaço!).

Bom... Mas aí cheguei no albergue, dei um banho na Poderosa (a coitadinha tava precisando, tinha lama pra tudo quanto é lado), tomei o meu, pus as coisas no alojamento e fui caçar o tal bar pra ver o jogo.

Graças a Deus estava passando o jogo lá! Aproveitei e matei 2 coelhos com uma caixa d`água só. Pedi um menu do peregrino e fiquei lá vendo o jogo. Saladinha, carne com batata, pão, vinho, água, e um sorvetinho de sobremesa. Maravilha. O jogo é que podia ser melhor. Mas tudo bem, "mejor" que nada!

Agora é hora de dormir, quer dizer, já passou da hora de dormir! Já tá todo mundo no quarto dormindo e eu tô aqui na net. Vou nessa que amanhã tem muito mais!

Umas fotos de hj:




















4 comentários:

lelê disse...

orgulho de você, fêfo! lindas fotos!!!
BUEN CAMIÑO, AMIGO!!!

Valentina disse...

Leco, as fotos tão lindas e seu texto sensacional!! Força!!! Beijos

Anônimo disse...

Valeu, gente.
Mas tenho que confessar que não está nada fácil.
Valeu pela força!

Bjs.

Mayra Fonseca disse...

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