sexta-feira, 25 de junho de 2010

Dia 11: 25/06/10. Rabanal del Camino - Villafranca del Bierzo. 59 kms.

Nossa... O cansaço faz a gente até se contradizer. Ontem falei que hoje iria passar pela Cruz de Hierro e depois disse que o dia seria tranquilo, sem subida. Dá onde eu tirei isso? E a subida à Cruz de Hierro? Pois é... O dia começou com subida. Não que tenha sido uma subida desgraçada. Mas deu pra suar um pouquinho. Foram uns 7 ou 8 kms só subindo, até chegar a famosa Cruz. É tradição no Caminho as pessoas levarem uma pedra pra porem aos pés da Cruz. Ontem antes de passar por Astorga, passei numa lojinha pra chupar um picolé e a moça que me atendeu, Vanessa, me disse que é preciso levar a pedra até a Cruz. É a tradição. Se é assim... Fiquei de arrumar uma pedra em Rabanal pra levar até a Cruz, então. Uma pequena, porque já tenho muitas "pedras" na bagagem.

Mas falando na Vanessa... Batemos um papo enquanto eu chupava meu picolé e ela me disse que daqui pra frente o Caminho fica bem bonito e interessante. Bom saber! E antes de eu sair ela me deu um saquinho de chcolate e disse que era um "regalo" para me ajudar no Caminho. E ajudou mesmo! Como eu disse, ontem eu passei a chocolate, praticamente. Energia pra ajudar na pedalada!

Enquanto vou pedalando costumo ir pensando no que vou postar, no que vou contar. Mas o cansaço sempre me trai e acabo esquecendo muitas coisas que queria dizer.

Mas hoje, ao subir até a Cruz de Hierro, fui pensando numa coisa. Tô muito filósofo mesmo! Paulo Coelho que se cuide! Rs... Enquanto ia mudando as marchas na Poderosa, à medida em que a subida ia exigindo, ia pensando... No ínicio, antes de vir pra cá, nos preparativos, tive medo de com uma bike de 21 marchas eu não conseguir fazer o Caminho, não conseguir subir algum morro, coisa assim. Mas colocar 27 marchas na Poderosa ia ser bem complicado. Ia mexer com toda a mecânica dela e ainda corria o risco de não ficar do jeito que eu queria. Resolvi, então, deixar essa idéia de lado e me concentrar em treinar com ela, com as 21 marchas mesmo. Treinar, treinar e treinar. Quem treina bem, joga bem.

Mas voltando a subida da Cruz... Fui pensando como as coisas são curiosas. Se tivesse as 27 marchas, com certeza teria usado as 2 mais leves que teria à disposição. Mas sem elas consegui subir do mesmo jeito e sem me matar. Às vezes nos deixamos acomodar. Quando temos muito, usamos tudo que temos sem nos esforçar muito. Mas quando temos pouco, aproveitamos ao máximo o que temos. Mais uma lição do Caminho. Coisas pequenas, singelas, mas que diante de um olhar mais atento revelam boas lições. Acabei me esquecendo de levar a pedra, mas deixei minha marca. As pessoas deixam de tudo por lá. De tudo mesmo! Até calcinha tinha! Rs... Deixei uma bandeirinha do Brasil com meu nome escrito.

Amanhã, enfim, o famigerado Cebreiro! Veremos se esse bicho de 7 cabeças é mesmo páreo pra mim e pra Poderosa. Com todo respeito! Já aprendi há muitos quilômetros atrás que não se pode subestimar o Caminho.

Mas voltando ao dia de hoje... Depois de subir até a Cruz, começamos a descer. E descer muito! Mas quem foi que disse que descida é sinônimo de facilidade? Que descidas desgraçadas! Muita pedra! Muita! A maioria dos ciclistas optava por ir pela carretera. "Carretera é o caralho! Meu nome é Zé Pequeno, porra!" É como eu digo: "Quem tá na chuva é pra se queimar!" Rs... Fui sempre pela trilha, muitas vezes a duras penas, mas fui.

Se for pra furar ou rasgar pneu, o dia é hoje, pensei. A descida me exigiu uma habilidade e técnica que eu nem sabia que tinha! Desviar das pedras no chão e dos espinhos ao redor era uma loucura! E quando tinha que escolher um dos 2, não tinha dúvida, ia no espinho! E vou te falar... Se fosse pra subir por onde eu desci... Sem chance! Impedalável (podem por essa no dicionário)! Mas nada de pneu furar ou rasgar. Chegamos inteirinhos, eu e a Poderosa. Inteiro, mas cansado. Muito cansado. Até porque tive que dar uma acelerada e tanto pra poder chegar a Villafranca a tempo de ver o jogo do Brasil. E foi a conta certinha. Incrível! Passei no albergue, peguei minha cama e pensei em tomar um banho. Já eram umas 15:40. Mas o banheiro tava cheio e desisti de esperar. Troquei a bermuda, pus um chinelo e fui procurar um lugar pra ver o jogo. Cheguei num bar que tinha televisão e, antes mesmo de sentar ou pedir algo, perguntei se podiam por no jogo do Brasil. A mulher que me atendeu disse que sim, sem problema. Sentei e ela trocou de canal. Começou o hino do Brasil na hora! De arrepiar! Mesmo com o som baixinho da tv.

O jogo foi até bem movimentado mas não gostei nada da seleção. Ah, Dunga! Dá seu jeito! Agora vim pro albergue e acho que não saio mais. Tem jogo da Espanha daqui a pouco mas tô muito cansado e acho que vou passar.







5 comentários:

Mayra Fonseca disse...

Fê,
Ninguém atendeu ontem na tua casa.
Dê notícias hoje, viu?
Sempre preparada pra andar de balão contigo.
:)

Elisa disse...

Não te deu vontade de pedalar até jerusalém não? Só 5.000 Km...
Bjus, adoro suas reflexões!!

Anônimo disse...

Uai, Liba... É um caso a se pensar, hein... Rs... Hoje nao fui muito reflexivo. Mas obrigado! Bj!

Renata Brito disse...

Horrorizei com a foto da "estradinha"!!! Imaginava pedrinhas....

Annibal disse...

"Segui pra Finisterre... Cara, é o Fim da Terra! O ponto mais extremo do oeste da Europa."

Sinto, mas te enganaram... pela localizacao, este lugar esta muito mais para "el culo del mundo".