sábado, 19 de junho de 2010

Dia 04: 18/06/10. Estella - Nájera. 80,8 kms.

Com todo o problema no câmbio da Poderosa, e já que tinha pagado caro o hotel em Estella, fiquei por lá para aproveitar a mordomia. Os donos do hotel foram muito simpáticos, Carlos e Maricruz. Carlos até me deu uma cópia de um roteiro com a altimetria das etapas do Caminho. Depois de jantar e ver o jogo da França, voltei para o hotel e fui dormir. Acordei cedo, antes mesmo de meu relógio despertar às 06:30. Não  encontrei mais com Carlos nem com Maricruz. Então deixei um bilhete para eles, junto com a chave do quarto, agradecendo pela hospedagem e hospitalidade. Mas antes de ir embora aproveitei pra tomar mais um baño caliente pra sair quentinho de lá. Porque de manhã faz um friozinho danado por aqui. Arrumei toda a bagagem, tomei um café da manhã no bar do outro lado da rua, mandei um anti-inflamatório pra dentro (a subida dos Pirineus e do Alto do Perdão deixaram uma bela tendinite de presente pra mim), comprei um bocadillo pra almoçar mais tarde e parti.

Saindo de Estella logo me deparei com a curiosa fonte de vinho das Bodegas Irache. Parei pra tomar um vinho, claro! Ainda mais de graça! Esvaziei uma das garrafas de água e levei um pouco de vinho para mais tarde.

O dia não ia ser fácil. Queria tirar o atraso do dia anterior e voltar ao cronograma inicial. Mas para isso teria que chegar atá Nájera. Os inicialmente planejados 48,8 km de Torres Del Rio até Nájera se transformariam em 80 km! Vamos tentar.

O dia amanheceu frio como sempre, mas agora já não se via chuva. Graças! À medida em que a manhã ia avançando o céu foi se abrindo e, mesmo que ainda não estivesse tão quente, pelo menos chuva não ia ter. E não teve mesmo! Ufa.

Fui pedalando e, pouco a pouco, iam surgindo peregrinos pela frente. Cumprimenta um aqui, um ali... Gente de todo canto! Brasileiro ainda não vi nenhum. Mas não demorou muito pra aparecer o primeiro. Depois de uma descida, parei para fazer umas fotos e, de repente, ouço uma voz em português me perguntando: brasileiro? Era o Maurício. O primeiro brasileiro que via no Caminho. Mas o mais legal de tudo foi quando ele me disse que tinha ouvido falar de mim em Puente La Reina, de mim e da Poderosa. Disseram a ele que tinham visto um brasileiro em Puente com a bike quebrada e sem saber bem o que fazer. Achei muito legal! Conversamos um pouco e depois resolvi dar uma esticada. Tinha muuuuuuuuito chão pela frente.

Mais uns kms pela frente e a tendinite atrás do joelho direito começou a me castigar. O que já era difícil ia ficar ainda mais. Quando adentrei uma cidadezinha cujo nome não me lembro bem, avistei uma farmácia. Parei pra tentar comprar uma daquelas joelheiras elásticas pra firmar um pouco o tendão e ver se as coisas melhoravam. Lá dentro outro peregrino, esse a pé, também buscava uma solução para uma tendinite. Comprei a joelheira (rodillera) e segui meu rumo. A joelheira aliviou um pouco as dores mas o incômodo ainda ia me acompanhar por muito tempo. Quando pedalava não sentia tanto as dores, mas quando parava... Nossa! Pra recomeçar era sofrível. Tinha que manter a perna em movimento, aquecida, pra doer menos. Nas descidas deixava a perna direita dobrada porque assim doía menos quando voltava a pedalar.

Depois de ter encontrado o Maurício, outros brasileiros foram surgindo. Um senhor do Rio, 3 senhoras de Santa Catarina... Me disseram que encontraram um grupo de 5 ou 6 brasileiros de bike, com camisa do Robinho e escrito: pedala, Robinho! Mas parece que com essas figuraças eu não vou me encontrar. Estão a uns 2 dias de viagem de mim.

Passei por dentro de Logroño e quando avistei um parque todo bonitão, resolvi parar um pouco. Me deitei na grama, tirei o bocadillo do alforje, peguei o vinho e fiz uma boquinha. Mas não podia ficar muito. Era preciso seguir. Queria chegar em Nájera e iria fazer o possível pra isso. Fui embora.

Descendo uma trilha, avistei um cara muito doidão. Ele estava a pé, de mochila nas costas (como todos os peregrinos), só que ia correndo. Isso mesmo, correndo! Ladeira a baixo! Parecia americano, mas não tenho certeza. E o cara foi correndo. Ultrapassei ele e, minutos depois, numa subida, não é que o cara me passa! Deu muita vontade de perguntar: Are you Chuck Norris, motherfucker? Mas deixei pra lá, passei por ele e dei linha.

Os kms iam passando, a tendinite castigando, mas nada de Nájera. Meu Deus do céu! O ritmo ia diminuindo à medida em que a tendinite falava mais alto. Mas devagar se vai ao longe, nao é? E eu fui mesmo. 80, 8 km depois de sair de Estella avistei Nájera! Graças a Deus!

Entrando na cidade parei pra dar uma olhada na localização dos albergues de lá. De repente ouço: tá perdido aí? Em português mesmo. Era um brasileiro que morava por perto. Leandro. A mãe dele conheceu um espanhol pela internet e foi pra lá morar com o cara. E o Leandro estava passando uns tempos com a mãe. Que história! Bom... O fato é que o Leandro quebrou meu galho. Me guiou pela cidade e me levou até o albergue público de Nájera. Nos despedimos e ele seguiu seu rumo.

Perguntei ao hospitaleiro se tinha vaga, ele disse que sim. Mas vi uma placa que dizia que o albergue fechava às 22. Perguntei pra ele se não podia chegar uma meia hora depois, porque queria ver o jogo da Inglaterra. Ele disse que não, que não podia de jeito nenhum e tal... Tá. Fazer o que? Tomei meu banho e fui procurar um lugar pra comer, de preferência onde estivesse passando o jogo. Pelo menos até os 15 do segundo tempo dava tempo de ver. E assim foi. Menu do dia, anti-inflamatório, jogo... Voltei pro albergue crente que ia poder ficar na net pra postar no blog e tal... 3 minutos depois de eu por a moeda no computador o "hospitaleiro", nada hospitaleiro, chegou botando terror em todo mundo que estava na sala. Falou que era pra todo mundo ir dormir, que não podíamos ficar lá, que não sei o que... Tentamos argumentar. Perguntei se não podia ficar ali, no escuro mesmo (já que ele já tinha até apagado as luzes), em silêncio. E ele, muito grosseiro, disse que não. Ô vontade de mandar esse cara praquele lugar! Mas deixa pra lá. Desliguei o computador, ainda faltando uns 15 minutos de crédito, e fui dormir. Amanhã o percurso deve ser mais tranquilo. E com a esticada de hoje até Nájera, tô de volta ao cronograma. Ah! A Poderosa está mais forte que nunca! Orgulho dela!


Maricruz, Thiago e Carlos.








Esses montinhos de pedra são uma tradição do Caminho. Cada peregrino que passa põe uma pedra. Bacana, né?

6 comentários:

Felipe disse...

hahahahahha Chuck noriz !!!!!

ohhh mother fuker Tamo acompanhanu toda hora seu blog aki, mais ve se tira mais fotos suas pow coloca no orkut pra gente distrai aki.

Muito bonito ae ein pqp !
tamo aki torcenu pra correr tudu bem ae mantem agente informado aki e pro teu joelho GELO !!!!!

Anônimo disse...

Fala, Bombs! Tirar foto minha é difícil. Às vezes ponho a câmera pra tirar sozinha mas nao fica muito bom. Quando dá peço alguém pra tirar. E assim vai.
Abraço!

Unknown disse...

Vc tá muito magrinhoooo!!!

Anônimo disse...

Assim que é bom, Rê. Menos peso pra carregar! Hahahaha. Bj!

Elisa disse...

E o español tá um arraso ein???
Na volta vai ter livro e aula de espanhol pra dar! UHU!!
Bjao
força e raça!!!

Anônimo disse...

Só no portunhol, Liba! Embromation! Mas tá dando pra se virar.
Raça demais!
Valeu! Bj!