Foram meses de preparação, quase um ano. Depois de decicido que iria em junho de 2010 comecei a pesquisar sobre uma série de coisas. Quem diria que dá tanto trabalho assim planejar uma viagem?
Viajar 865 km em cima de uma bicicleta? Isso tem nome! É
cicloturismo! Conheci o cicloturismo e descobri que muita gente pratica esse esporte-turismo. Uma maneira muito legal de viajar, pra quem gosta de pedalar, é claro. Mas o que eu preciso pra "ser" um cicloturista? Bom... De cara já percebi que não daria pra levar a bagagem numa mochila. Por mais que se queira levar o mínimo, existem alguns itens que são indispensáveis (como saco de dormir, equipamentos para a manutenção da bike, etc). Fui apresentado aos
alforges e percebi que eles seriam equipamento obrigatório. Os alforjes são uma espécie de "mochilas" especiais que são instaladas na bike. É dentro deles que vai toda a bagagem. Mas espera aí... Como é que eu vou levar minha bike daqui do Brasil para a Espanha?!
Mala-bike! É uma mala especial para transportar bicicletas. A bike vai dentro dela com as rodas desmontadas. Não tem escapatória, vou precisar de um mala-bike também! E assim fui, aos poucos, descobrindo o que iria precisar no Caminho e o que seria supérfluo, o que iria apenas servir de peso pra complicar mais ainda as árduas subidas que viriam pela frente. Tenho que agradecer muito a alguns peregrinos que, com muita boa vontade e paciência ("Esse é o espírito do Caminho", eles diziam) me ajudaram com dicas preciosas. Obrigado Dorival, Aurélio,
Ricardo, Rogério,
Manoel, Paulo Sérgio. As dicas de vocês foram muito importantes para o planejamento dessa viagem.
Com tudo que iria precisar em mente, era hora de começar a providenciar o que precisaria comprar e... TREINAR! Fazia tempo que não pedalava com regularidade e sabia que sem treinar bastante teria muita dificuldade. Comprei os alforjes, enchi 4 garrafas pet de 2 litros e coloquei dentro deles pra servir de peso, e comecei a pedalar, pedalar, pedalar... De lá pra cá foram mais de 2.400 km de treinamento. Ao mesmo tempo, pesquisava na internet que rota iria fazer, em quantos dias, onde iria pernoitar... Decidi que iria percorrer o Caminho Francês, a rota mais tradicional do Caminho de Santiago. Sairia de Saint Jean Pied de Port (França) e iria até Finisterre, uma cidadezinha no extremo oeste do continente europeu. "O fim da terra!" Fiz um planejamento de 17 dias, sem pressa. Uma média de 50 km por dia.
E compra equipamento pra bike, isolante térmico (funciona como um colchonete para por embaixo do saco de dormir, para quando não houver cama disponível), protetor solar, kit de primeiros socorros... É muita coisinha!
Opa! Não dá pra esquecer a
Credencial del Peregrino (que permite ao peregrino usar a rede de albergues públicos do Caminho). É ela também que dá direito a receber a Compostela (um certificado dado aos peregrinos que completam o percurso).
Com todo o material providenciado, era preciso fazer um ensaio. E como disse o Ricardo, no seu blog: "Organizar a bagagem é um exercício de desapego!" Cada coisa que vai pra dentro dos alforjes é peso pra puxar na subida. Põe tudo no alforje, pesa, tira tudo... "Essa camisa fica", "pra que 4 cuecas?", "posso tirar uma meia". E assim foi até chegar aos 12 kg de bagagem (contando o mala-bike que sozinho pesa seus 3 kg!). Agora vamos à rua pedalar pra ver como a bike se comporta. Tudo certo! Sem problemas!
Li em algum lugar, durante minhas pesquisas, que o Caminho começa com a preparação. É verdade! Meu caminho já começou! Que Deus me ajude. E como dizem os peregrinos: "Ultreya!" (algo como: "Em frente!").